quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

São Valentim

Sanctus Valentinus, ora pro nobis!
A voz popular fez deste santo o padroeiro dos namorados, possivelmente porque no tempo em que viveu São Valentino, a religião cristã estava muito perseguida e os pares se casavam as escondidas com o ritual da igreja. Alguns crêem que é uma festa cristianizada do paganismo, já que na antiga Roma se realizada a adoração do deus do amor cujo nome era Eros, a quem muitos passaram a chamar de Cupido.

Na Inglaterra nos séculos XVII, a festa de São Valentino era onde se escolhiam os casais para formarem um par. Seja como for, São Valentino é o padroeiro dos enamorados e de todas aquelas pessoas que querem ter uma amigo ou um amiga para acompanha-la ao cinema e também para formar uma família e serem felizes.

São Valentino goza de imensa popularidade nos países de língua inglesa.

Nos Estados Unidos, Inglaterra e grande parte da Europa a sua festa é celebrada no dia 14 de fevereiro, e nos grandes centros comerciais, ao estilo do Natal, se faz uma semana de festa e de compras de todos os produtos relacionados com o namoro e noivado.

Quem foi São Valentino?

Era um sacerdote e nasceu em Roma nos meados do seculo III e gozou de grande prestigio naquela cidade até que o Imperador Cláudio II o convidou ao seu palácio para saber o porque de sua fama. Segundo a tradição São Valentino aproveitou aquela ocasião para fazer uma bonita e convincente propaganda da religião cristã e convencer ao Imperador Cláudio que seguisse os passos de Jesus. Embora em principio, Cláudio II se sentisse atraído por aquela religião, que os mesmos romanos perseguiam, os soldados do Governador de Roma, Calpurnio o obrigaram a desistir e organizaram uma campanha contra o nosso querido santo. Cláudio não teve outra saída a não ser voltar atras e mandar que Calpurnio o processasse .

Mas quem levaria a cabo aquela missão seria o lugar tenente do governador , um homem de nome Austérius. Quando São Valentino foi levado ante ele, este zombou da religião cristã, e pôs a prova a fé de São Valentino, perguntando a ele se poderia devolver a visão a sua filha cega de nascença. São Valentino aceitou o desafio e em nome do Senhor fez o prodígio e Austérius e toda a sua família se converteram ao cristianismo, mas São Valentino não se salvou do martírio já que, temendo uma rebelião do exército, o imperador mandou que o executassem, isto no ano de 270.

As relíquias de São Valentino estão atualmente na Basílica de São Valentino situada na cidade de Terni, Itália.

Sua festa é celebrada no dia 14 de fevereiro. Neste dia, naquele templo, é celebrado um ato de compromisso dos casais que querem se unir em matrimonio no ano seguinte.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Um país que permite o aborto é um país muito pobre..."

"O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundos os cientistas e pesquisadores para todos; existem riquezas mais do que de sobra para todos é só uma questão de reparti-la bem, sem egoísmo. O aborto pode ser combatido mediante da adoção. Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dêem a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas. Ninguém tem o direito de matar um ser humano que vai nascer: nem o pai, nem a mãe, nem o estado, nem o médico. Ninguém. Nunca, jamais, em nenhum caso. Se todo o dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer com que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito feliz. "Um país que permite o aborto é um país muito pobre, porque tem medo de uma criança, e o medo e sempre uma grande pobreza".(Madre Tereza de Calcutá)


Washington, DC,
3 de Fevereiro de 1994
(...) Eu sinto que o grande destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra contra a criança, uma matança direta de crianças inocentes, assassinadas pela própria mãe.
E se nós aceitamos que uma mãe pode matar até mesmoseu próprio filho, como é que nós podemos dizer as outras pessoas para não se matarem? Como é que nós persuadimos uma mulher à não fazer o aborto? Como sempre, nós devemos persuadi-la com amor e nós devemos nos lembrar que amor significa estar disposto a doar-se até que machuque. Jesus deu Sua vida por amor de nós. Assim, a mãe que pensa em abortar, deve ser ajudada a amar, ou seja, a doar-se até que machuque seus planos, ou seu tempo livre, para respeitar a vida de seu filho. O pai desta criança, quem quer que ele seja, deve também se doar até que machuque.
Através do aborto, a mãe não aprende a amar, mas mata seu próprio filho para resolver seus problemas.
E, através do aborto, diz-se ao pai que ele não tem que ter nenhuma responsabilidade pela criança que ele trouxe ao mundo. Este pai provavelmente vai colocar outras mulheres na mesma situação. Logo, o aborto apenas traz mais aborto.
Qualquer país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar de qualquer violência para conseguir o que se quer. É por isso que o maior destruidor do amor e da paz é o aborto.
Muitas pessoas são muitas preocupadas com as crianças da Índia, com as crianças da África onde muitas delas morrem de fome, etc. Muitas pessoas também são preocupadas com toda a violência nos Estados Unidos. Estas preocupações são muito boas. Mas freqüentemente estas mesmas pessoas não estão preocupadas com os milhões que estão sendo mortos pela decisão deliberada de suas próprias mães. E isto é que é o maior destruidor da paz hoje - o aborto que coloca as pessoas em tal cegueira.
E por causa disto eu apelo na Índia e apelo em todo lugar - "Vamos resgatar a criança". A criança é o dom de Deus para a família. Cada criança é criada a imagem e semelhança de Deus para grandes coisas - para amar e ser amada. Neste ano da família nós devemos trazer a criança de volta ao centro de nosso cuidado e preocupação. Esta é a única maneira pela qual nosso mundo pode sobreviver porque nossas crianças são a única esperança do futuro. Quando as pessoas mais velhas são chamadas para Deus, somente seus filhos podem tomar seus lugares.
Mas o que Deus diz para nós? Ele diz: "Mesmo se a mãe se esquecer de seu filho, Eu jamais te esquecerei. Eu gravei seu nome na palma de minha mão". (Is 49). Nós estamos gravados na palma da mão de Deus; aquela criança que ainda não nasceu está gravada na mão de Deus desde a concepção e é chamada por Deus a amar e ser amada, não somente nesta vida, mas para sempre. Deus jamais se esquece de nós.
Eu vou lhe contar uma coisa bonita. Nós estamos lutando contra o aborto pela adoção - tomando conta da mãe e da adoção de seu bebê. Nós temos salvado milhares de vidas. Nós mandamos a mensagem para as clínicas, para os hospitais e estações policiais: "Por favor, não destrua a criança, nós ficaremos com ela". Nós sempre temos alguém para dizer para as mães em dificuldade: "Venha, nós tomaremos conta de você, nós conseguiremos um lar para seu filho". E nós temos uma enorme demanda de casais que não podem ter um filho - mas eu nunca dou uma criança para um casal que tenha feito algo para não ter um filho. Jesus disse, "Aquele que recebe uma criança em meu nome, a mim recebe". Ao adotar uma criança, estes casais recebem Jesus mas ao abortar uma criança, um casal se recusa a receber Jesus.
Por favor, não mate a criança. Eu quero a criança. Por favor, me dê a criança. Eu estou disposta a aceitar qualquer criança que estiver para ser abortada e dar esta criança a um casal que irá amar a criança e ser amado por ela.
Só de nosso lar de crianças em Calcutá, nós salvamos mais de 3000 crianças do aborto. Estas crianças trouxeram tanto amor e alegria para seus pais adotivos e crescem tão cheias de amor e de alegria.
Eu sei que os casais têm que planejar sua família e para isto existe o planejamento familiar natural.
A forma de planejar a família é o planejamento familiar natural, não a contracepção.
Ao destruir o poder de dar a vida, através da contracepção, um marido ou esposa está fazendo algo para si mesmo. Atrai a atenção para si e assim destrói o dom do amor nele ou nela. Ao amar, o marido e mulher devem voltar a atenção entre si como acontece no planejamento familiar natural, e não para si mesmo, como acontece na contracepção. Uma vez que o amor vivo é destruído pela contracepção, facilmente segue-se o aborto.
Eu sei também que existem enormes problemas no mundo - que muitos esposos não se amam o suficiente para praticar o planejamento familiar natural. Nós não temos condições de resolver todos os problemas do mundo, mas não vamos trazer o pior problema de todos, que é a destruição do amor. E isto é o que acontece quando dizemos as pessoas para praticarem a contracepção e o aborto.
Os pobres são grandes pessoas. Eles podem nos ensinar tantas coisas belas. Uma vez uma delas veio nos agradecer por ensinar-lhe o planejamento familiar natural e disse: "Vocês que praticam a castidade, vocês são as melhores pessoas para nos ensinar o planejamento familiar natural porque não é nada mais que um autocontrole por amor de um ao outro". E o que esta pobre pessoa disse é a pura verdade. Estas pessoas pobres talvez não tenham algo para comer, talvez não tenham uma casa para morar, mas eles ainda podem ser ótimas pessoas quando são espiritualmente ricos.
Quando eu tiro uma pessoa da rua, faminto, eu dou-lhe um prato de arroz, um pedaço de pão. Mas uma pessoa que é excluída, que se sente não desejada, mal amada, aterrorizada, a pessoa que foi colocada para fora da sociedade - esta pobreza espiritual é muito mais difícil de vencer. E o aborto, que com freqüência vem da contracepção, faz uma pessoa se tornar pobre espiritualmente, e esta é a pior pobreza e a mais difícil de vencer.
Nós não somos assistentes sociais. Nós podemos estar fazendo trabalho de assistência social aos olhos de algumas pessoas, mas nós devemos ser contemplativas no coração do mundo. Pois estamos tocando no corpo de Cristo e estamos sempre em Sua presença.
Você também deve trazer esta presença de Deus para sua família, pois a família que reza unida, permanece unida.
Existe tanto ódio, tanta miséria, e nós com nossas orações, com nosso sacrifício, estamos começando em casa. O amor começa em casa, e não se trata do quanto nós fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos.
Se formos contemplativas no coração do mundo com todos os seus problemas, estes problemas jamais podem nos desencorajar. Nós devemos nos lembrar o que Deus fala na Escritura: "Mesmo se a mãe esquecer-se do filho que amamenta - algo impossível, mesmo se ela o esquecesse - Eu não te esqueceria nunca".
E aqui estou eu falando com vocês. Eu desejo que vocês encontrem os pobres daqui, na sua própria casa primeiro. E comece a amar ali. Seja a boa nova para o seu próprio povo primeiro. E descubra sobre o seu vizinho ao lado. Você sabe quem são eles?
Deus jamais nos esquecerá e sempre existe algo que você e eu podemos fazer. Nós podemos manter a alegria do amor de Jesus em nossos corações, e partilhar esta alegria com todos aqueles de quem nos aproximarmos.
Vamos insistir que - cada criança não seja indesejada, mal amada, mal cuidada, ou morta e jogada fora. E doe-se até que machuque - com um sorriso.
Porque eu falo muito sobre doar-se com um sorriso nos lábios, uma vez um professor dos Estados Unidos me perguntou: "Você é casada?" E eu disse: "Sim, e algumas vezes eu acho difícil sorrir para meu esposo, Jesus, porque Ele pode ser muito exigente - algumas vezes". Isto é mesmo algo verdadeiro.
E é aí que entra o amor - quando exige de nós, e ainda assim podemos dar com alegria. Se nos lembrarmos que Deus nos ama, e que nós podemos amar os outros como Ele nos ama, então a América pode se tornar um sinal de paz para o mundo.
Daqui deve sair para o mundo, um sinal de cuidado para o mais fraco dos fracos - a futura criança. Se vocês se tornarem uma luz ardente de justiça e paz no mundo, então vocês serão verdadeiramente aquilo pelo qual os fundadores deste país lutaram. Deus vos abençoe!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O que é a Igreja Brasileira, ou Igreja Católica Brasileira?

por D. Estevão Bettencourt


A Igreja Católica Apostólica Brasileira ou “Igrejas Católicas Apostólicas Brasileiras” (ICAB), têm lançado confusão no público, pois pretendem guardar a aparência de Igreja Católica e facilitam a praxe religiosa dos seus seguidores. – Daí a conveniência de uma análise precisa do fenômeno.


1. Origem da ICAB

A “Igreja Católica Apostólica Brasileira” (ICAB) tem como fundador D. Carlos Duarte Costa. Este nasceu aos 21 de julho de 1888 no Rio de Janeiro e recebeu a ordenação sacerdotal a 1º de abril de 1911. Aos 4 de julho de 1924 foi nomeado bispo de Botucatu (SP). Pouco feliz foi o governo do novo prelado, que se viu envolvido em questões de mística desorientada (devoções pouco condizentes com a reta fé); também enfrentou problemas de administração financeira e de embates políticos. Em conseqüência foi afastado de sua diocese e nomeado bispo titular de Maura (na Mauritânia, África Ocidental); fixou então residência no Rio de Janeiro. Em breve, porém, D. Carlos viu-se a braços com novas lutas: em 1942 o Brasil entrou em guerra contra o nazi-fascismo; nessa ocasião o bispo apelou publicamente para o Presidente da República a fim de que interviesse na Igreja e expulsasse bispos e sacerdotes “fascistas, nazistas e falangistas”; acusou a Ação Católica de espionagem em favor do totalitarismo da direita; prefaciou elogiosamente o livro “O Poder Soviético” de Hewlet Johnson e atacou por escrito as Forças Armadas do Brasil. Em conseqüência, foi preso como comunista e enviado a uma cidade de Minas Gerais, onde permaneceu na qualidade de hóspede.

Diante dos rumores que se propagavam em torno da pessoa de D. Carlos, as autoridades eclesiásticas procuraram apaziguá-lo. Como isto não desse resultado, D. Carlos em 1944 foi suspenso de ordens, isto é, perdeu a autorização para exercer as funções do sagrado ministério. Esta medida de nada serviu; por isto D. Carlos foi excomungado aos 6 de julho de 1945; neste mesmo dia resolveu fundar a sua Igreja, dita “Igreja Católica Apostólica Brasileira”. Em vista desta atitude, o Santo Ofício declarou D. Carlos excomungado vitandus (= a ser evitado) aos 3 de julho de 1946.

Um dos primeiros atos públicos da ICAB foi a fundação do “Partido Socialista Cristão”, sob a orientação de D. Carlos. Este chegou a apresentar um candidato à presidência da República, o qual, porém, se desentendeu em breve, ficando fracassado o novo Partido.

D. Carlos promoveu direta ou indiretamente a ordenação de numerosos “bispos” e “presbíteros”, cuja formação doutrinária e cultural era precária. O infeliz prelado veio a falecer aos 26 de março de 1961; terminou a vida de maneira desvairada, obcecado por paixões, que se exprimiam em injúrias através do seu jornal “LUTA”. Todavia um Concílio Nacional da ICAB, aos 6 de julho de 1970, chegou a atribuir-lhe o título de “Santo”: “São Carlos Duarte”!

2. Doutrina e atuação da ICAB

Em matéria de doutrina, a ICAB procura reproduzir a da Igreja Católica, excluindo (como se compreende) o primado de Pedro… A sua mensagem teológica é muito diluída, visão que os seus orientadores pouco estudam. Vários destes são homens que tentaram chegar ao sacerdócio na Igreja Católica, mas, por um motivo ou outro, não o conseguiram; então passaram-se para a ICAB, onde o estudo e o acesso às ordens sagradas lhes foram extremamente facilitados. Infelizmente nota-se nos membros da hierarquia e nos fiéis da ICAB certo oportunismo, ou seja, a procura de atender a interesses pessoais: ordenação “sacerdotal” ou “episcopal”, lucros financeiros mediante celebração do culto, “casamento” facilitado em favor de pessoas já casadas, “batizados” sem preparação dos pais e padrinhos… Dir-se-ia que a ICAB procura adeptos a todo e qualquer preço; lê-se, por exemplo, na Lista Telefônica de assinantes classificados do Rio de Janeiro:

“ICAB, Igreja Católica Apostólica Brasileira, Paróquia São Jorge: casamento com ou sem efeito civil de pessoas solteiras, desquitadas e divorciadas. Crismas. Consagrações. Também em residências ou Clubes Realengo, Piraquara”.

Dado que a ICAB se adapta às diversas oportunidades de crescer, há atualmente muitos ramos da mesma independentes uns dos outros, o que sugere a denominação “Igrejas Católicas Apostólicas Brasileiras” em vez de “Igreja Brasileira”.

O que dá certo êxito a essa corrente religiosa, são os dois seguintes fatores:

1) A reprodução dos ritos e a conservação dos símbolos (inclusive da linguagem) da Igreja Católica. Muitas pessoas não conseguem distinguir entre a Igreja Católica e a Igreja Brasileira. Parece haver a intenção de guardar em tudo as aparências da Igreja Católica entre os responsáveis das Igrejas Brasileiras.

2) O procedimento facilitário e oportunista dos mentores da ICAB. Esta não apresenta normas definidas de Direito Eclesiástico, de modo que os seus ministros são capazes de “legitimar” religiosamente qualquer situação ilegal daqueles que os procuram. Este comportamento facilitário é, naturalmente, fonte de dinheiro, pois a ICAB sabe prevalecer-se da generosidade dos fiéis. A exploração se torna ainda mais fácil em virtude da ignorãncia religiosa de muitos cidadãos brasileiros.

A falta de estrutura doutrinária e disciplinar das Igrejas Brasileiras lhes tira a coesão desejável e faz que não tenham quase significado no cenário público do Brasil; apesar disto, conseguem penetrar dentro da população desprevenida da nossa Pátria, favorecendo o ecleticismo e solapando a vitalidade religiosa de muitos católicos.

A propósito pergunta-se:

3. Qual a validade dos ritos da ICAB?
"Missa" de celebração de 65 anos da fundação da ICAB

Respondemos em três etapas:

3.1. A eficácia dos Sacramentos

a) Um sacramento é um rito mediante o qual Cristo comunica as graças da Redenção ex opere operato, ou seja, desde que o ministro respectivo aplique a matéria (água, pão, vinho, óleo) e a forma devida (as palavras que indicam o efeito da matéria).

b) Os sacramentos não são eficazes ou não conferem a graça em virtude da santidade do homem (sacerdote, bispo) que os administra mas sim por ação do próprio Cristo, que se serve do homem como instrumento de sua obra redentora. Todavia, para a validade do sacramento, requer-se que:

- O ministro tenha sido validamente ordenado padre ou bispo;

- Tenha, ao administrar o sacramento, a intenção de fazer o que Cristo queria que fosse feito, ou a intenção de se identificar com as intenções de Cristo, Sumo Sacerdote.

3.2. Que diz a ICAB?

Os adeptos da ICAB afirmam que

- Seus ministros foram validamente ordenados padres e bispos, pois receberam a sucessão apostólica das mãos de D. Carlos Duarte Costa, que foi verdadeiro bispo da Igreja Católica, sagrado por D. Sebastião Leme. Embora Dom Carlos se tenha separado da Igreja Católica, conservou o caráter episcopal perenemente impresso em sua alma

- D. Carlos e os bispos que ele ordenou sempre fizeram questão de transmitir as ordens sacras segundo o ritual exato adotado pela Igreja Católica (usando mesmo o latim em algumas ocasiões);

- As missas, os batizados e outros ritos ocorrentes nas cerimônias de culto da ICAB obedecem estritamente à essência do Ritual sempre vigente na Igreja Católica.

Por conseguinte, concluem os ministros da ICAB, a Igreja Brasileira possui autênticos bispos e presbíteros, e ministra validamente os sacramentos.

3.3. E que diz a Igreja Católica?

a) Embora os ministros da Igreja Brasileira apliquem exatamente a matéria e a forma de cada sacramento, falta-lhes algo de essencial para que seus sacramentos sejam válidos, isto é, a intenção de fazer o que Cristo quis fosse feito. Na verdade, os ministros da ICAB, mediante os seus ritos, intencionam criar e desenvolver uma “Igreja” separada da única Igreja fundada por Cristo; tal “Igreja” nova já não professa as verdades do Credo Apostólico, mas se entrega ao ecleticismo religioso: protestantes, espíritas, maçons e comunistas podem ser igualmente membros da ICAB. Sim; a revista “A Patena”, revista da “diocese da Baixada Fluminense” da ICAB, em seu nº 3 de 1971, 4ª capa, diz que a Igreja Brasileira “religiosamente é católica, porque aceita em seu grêmio cristãos de qualquer mentalidade, sem repelir os que sejam ou se digam protestantes, espíritas, maçons, católicos-romanos etc.”. Isto significa que a Igreja Brasileira vem a ser uma sociedade filantrópica, humanitária, mas já não tem a mensagem religiosa definida que o Cristo confiou ao mundo e que o Símbolo de fé apostólico professa.
Donde se vê que a ação dos ministros da ICAB carece daquela intenção que é essencial para a validade dos sacramentos: a intenção de fazer o que Cristo faz mediante os sacramentos.

b) Já que a ICAB se ramificou, dando origem a múltiplas “Igrejas”, Ordens e Irmandades independentes, já não se pode saber até que ponto nas denominações “católico-brasileiras” se conserva a fidelidade aos ritos sacramentais; com o tempo as arbitrariedades e os desvios facilmente se introduzem nas pequenas comunidades. Em conseqüência, a Igreja Católica não reconhece as ordenações conferidas pela ICAB, muito menos reconhece a autenticidade das Missas e dos sacramentos celebrados pela ICAB.

4. Observações Finais

A Igreja fundada por Cristo (cf. Mt 16,16-19) é Católica (aberta a todos os homens), Apostólica (baseada sobre a ação missionária dos doze Apóstolos) e Romana, isto é, governada visivelmente por Pedro e seus sucessores, que têm sede em Roma (como poderiam ter em Jerusalém, Antioquia, Alexandria… se a Providência Divina tivesse encaminhado Pedro e os acontecimentos iniciais da história da Igreja em rumo diverso do que realmente ocorreu).

O título de “Romana” portanto não significa que a Igreja de Cristo esteja presa aos interesses políticos da cidade de Roma ou da nação italiana; nem implica subordinação dos fiéis católicos do Brasil a uma potência estrangeira, mas apenas indica que essa Santa Igreja tem seu chefe visível, instituido por Cristo, na cidade de Roma.

Os fatos atrás apontados evidenciam a urgência de sólida catequese para o povo de Deus no Brasil.


São Brás (séc. III)

Por intercessão de São Brás, Bispo e Mártir,
livra-te Deus do mal da garganta e de qualquer outra doença.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém!


A cada ano, nos dia 3 de fevereiro, é tradição em muitas igrejas, a benção de são Brás, imposta sobre a garganta. Poucas pessoas, todavia, sabem a origem da benção e muito menos a história do santo que a inspirou. Isso revela uma característica fundamental na devoção aos santos: o que buscamos neles não são eles mesmos, mas a Deus que transformou a vida deles e pode transformar a nossa. Não é o santo que cura: é Deus que faz o milagre pela intercessão de alguém que, em vida, foi como nós, que enfrentou os mesmos problemas e fracassos, mas que deu prioridade a Deus, seguindo Jesus Cristo.

A vida e os feitos de São Brás atingem aquele ápice de alguns poucos, que atraem a profunda fé e a admiração popular. Ele é venerado no Oriente e Ocidente com a mesma intensidade ao logo de séculos, e até hoje, mães aflitas recorrem à sua intercessão quando um filho engasga ou apresenta problemas de garganta. A bênção de São Brás, procurada principalmente por quem tem problemas nesta parte do corpo, onde é ministrada nesta data em muitas igrejas do mundo cristão.

O prodígio atribuído à ele quando era levado preso, para depois ser torturado, é dos mais conhecidos por pessoas de todo o planeta. Consta que uma mãe aflita jogou-se aos seus pés pedindo que socorresse o filho, que agonizava com uma espinha de peixe atravessada na garganta. O santo rezou, fez o sinal da cruz sobre o menino e este se levantou milagrosa, e imediatamente como se nada lhe tivesse acontecido.

Brás nasceu na Armênia, era médico, sacerdote e muito benevolente com os pobres e cristãos perseguidos e por essas virtudes foi nomeado bispo de Sebaste , isto no século três. Também sabemos que, apesar de aqueles anos marcarem os finais das grandes perseguições aos cristãos, muitos ainda torturados e mortos na mão dos poderosos pagãos. Brás abandonou o bispado e se protegeu na caverna de uma montanha isolada e mesmo assim, depois de descoberto e capturado, morreu em testemunho de sua fé sob as ordens do imperador Licínio, em 316.

Muitas tradições envolvem seus prodígios, graças e seu suplício. Segundo elas, fama de sua santidade rodou o mundo ainda enquanto vivia e sua morte foi impressionante. O bispo Brás teria sido terrivelmente flagelado e torturado, sendo por fim pendurado em um andaime para morrer. Como isso não acontecia, primeiro lhe descarnaram os ossos com pentes de ferro. Depois tentaram afogá-lo duas vezes e, frustrados, o degolaram para ter certeza de sua morte.

O corpo do santo mártir ficou guardado na sua catedral de Sebaste da Armênia, mas no ano 732 uma parte de suas relíquias foram embarcadas por alguns cristãos armênios que seguiam para Roma.

Nessa ocasião uma repentina tempestade interrompe a viagem na altura da cidade de Maratea, em Potenza; e alí os fieis acolhem as relíquias do santo numa pequena igreja, que depois se tornaria sua atual basílica e a localidade receberia o nome de Monte São Brás.

Mais recentemente, em 1983 no local da igrejinha inicial foi erguida uma estátua de São Brás, com a altura de vinte e um metros. Como dissemos, do Oriente ao Ocidente, todo o mundo cristão se curva à devoção de São Brás nomeando ainda hoje cidades e locais, para render-lhes homenagem e veneração.


Oração

Senhor, que por meio de São Brás, proteges a nossa fragilidade, cuida, também, de nossa garganta.

Que, sadia e revigorada, permita que cantemos teus louvores, falemos só a verdade, proclamemos a Boa Nova,
e, um dia, juntemo-nos ao coro dos anjos.

Por Cristo Jesus, cuja voz seguimos com todo amor.

Amém.



Fontes:
Ecclesia
Paulinas

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Catequese sobre Teresa de Jesus (d'Ávila)



Intervenção na audiência geral de hoje



CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral.
***
Queridos irmãos e irmãs:
Ao longo das catequeses que eu quis dedicar aos Padres da Igreja e a grandes figuras de teólogos e mulheres da Idade Média, pude falar sobre alguns santos e santas que foram proclamados Doutores da Igreja por sua eminente doutrina. Hoje, eu gostaria de começar com uma breve série de encontros para completar a apresentação dos Doutores da Igreja.
E iniciamos com uma santa que representa um dos cumes da espiritualidade cristã de todos os tempos: Santa Teresa de Jesus. Ela nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento "de pais virtuosos e tementes a Deus", em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): "Eu quero ver Deus", disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que "tudo o que pertence a este mundo passa"; por outro, que só Deus é para "sempre, sempre, sempre", tema que recupera em seu famoso poema: "Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!". Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).
Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus. Escreve: "Eu desejava viver porque compreendia bem que não estava vivendo, mas estava lutando com uma sombra de morte, e não tinha ninguém para me dar vida, e nem eu poderia tomá-la, e Aquele que podia dá-la a mim, estava certo em não me socorrer, dado que tantas vezes me voltei contra Ele, e eu o havia abandonado" (Vida 8, 2). Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de "um Cristo muito ferido" marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das "Confissões", descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: "Aconteceu que...de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n'Ele" (Vida 10, 1). Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi. Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.
Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: "No final, morro como filha da Igreja" e "Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos". Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada "Doutora da Igreja" pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do "Caminho de Perfeição"), ou seja, a partir da experiência. Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada "Livro da Vida", que ela chama de "Livro das Misericórdias do Senhor". Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do "Mestre dos espirituais", São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o "Caminho da perfeição", chamado por ela de "Admoestações e conselhos" que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração. A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o "Castelo Interior", escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete "moradas", como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no "Cântico dos Cânticos", para o símbolo final dos "dois esposos", que permite descrever, na sétima "morada", o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial. À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o "Livro das fundações", escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.
Não é fácil resumir em poucas palavras a profunda e complexa espiritualidade teresiana. Podemos citar alguns pontos-chave. Em primeiro lugar, Santa Teresa propõe as virtudes evangélicas como base da vida cristã e humana: em particular, o desapego dos bens ou a pobreza evangélica (e isso diz respeito a todos nós); o amor de uns aos outros como elemento essencial da vida comunitária e social; a humildade e o amor à verdade; a determinação como resultado da audácia cristã; a esperança teologal, que descreve como sede de água viva. Sem esquecer das virtudes humanas: afabilidade, veracidade, modéstia, cortesia, alegria, cultura. Em segundo lugar, Santa Teresa propõe uma profunda sintonia com os grandes personagens bíblicos e a escuta viva da Palavra de Deus. Ela se sente em consonância sobretudo com a esposa do "Cântico dos Cânticos", com o apóstolo Paulo, além de com o Cristo da Paixão e com Jesus Eucarístico.
A santa enfatiza, depois, quão essencial é a oração: rezar significa "tratar de amizade com Deus, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama" (Vida 8, 5). A ideia de Santa Teresa coincide com a definição que São Tomás Aquino dá da caridade teologal, como amicitia quaedam hominis ad Deum, uma espécie de amizade entre o homem e Deus, quem primeiro ofereceu sua amizade ao homem (Summa Theologiae II-ΙI, 23, 1). A iniciativa vem de Deus. A oração é vida e se desenvolve gradualmente, em sintonia com o crescimento da vida cristã: começa com a oração vocal, passa pela interiorização, através da meditação e do recolhimento, até chegar à união de amor com Cristo e com a Santíssima Trindade. Obviamente, este não é um desenvolvimento no qual subir degraus significa abandonar o tipo de oração anterior, mas um gradual aprofundamento da relação com Deus, que envolve toda a vida. Mais que uma pedagogia da oração, a de Teresa é uma verdadeira "mistagogia": ela ensina o leitor de suas obras a rezar, rezando ela mesma com ele; frequentemente, de fato, interrompe o relato ou a exposição para fazer uma oração.
Outro tema caro à santa é a centralidade da humanidade de Cristo. Para Teresa, na verdade, a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus que culmina na união com Ele pela graça, por amor e por imitação. Daí a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo na Igreja, para a vida de cada crente e como coração da liturgia. Santa Teresa vive um amor incondicional à Igreja: ela manifesta um vivo sensus Ecclesiae frente a episódios de divisão e conflito na Igreja do seu tempo. Reforma a Ordem Carmelita com a intenção de servir e defender melhor a "Santa Igreja Católica Romana" e está disposta a dar sua vida por ela (cf. Vida 33, 5).
Um último aspecto fundamental da doutrina de Teresa que eu gostaria de sublinhar é a perfeição, como aspiração de toda vida cristã e sua meta final. A Santa tem uma ideia muito clara da "plenitude" de Cristo, revivida pelo cristão. No final do percurso do "Castelo Interior", na última "morada", Teresa descreve a plenitude, realizada na inabitação da Trindade, na união com Cristo mediante o mistério da sua humanidade.
Queridos irmãos e irmãs, Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.
Que o exemplo desta santa, profundamente contemplativa e eficazmente laboriosa, também nos encoraje a dedicar a cada dia o tempo adequado à oração, a esta abertura a Deus, a este caminho de busca de Deus, para vê-lo, para encontrar a sua amizade e, por conseguinte, a vida verdadeira; porque muitos de nós deveríamos dizer: "Eu não vivo, não vivo realmente, porque não vivo a essência da minha vida". Porque este tempo de oração não é um tempo perdido, é um tempo no qual se abre o caminho da vida; abre-se o caminho para aprender de Deus um amor ardente a Ele e à sua Igreja; e uma caridade concreta com nossos irmãos. Obrigado.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs,
Santa Teresa de Jesus, nascida no século XVI, é um dos vértices da espiritualidade cristã de todos os tempos, e deu início, junto com São João da Cruz, à Ordem dos Carmelitas descalços. Apesar de não possuir uma formação acadêmica, sempre soube se alimentar dos ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Suas principais obras são: "O livro da Vida"; "Caminho da perfeição"; "Castelo Interior" e "O Livro das Fundações". Entre os elementos essenciais da sua espiritualidade, podemos destacar, em primeiro lugar, as virtudes evangélicas, base de toda a vida cristã e humana. Depois, Santa Teresa insiste na importância da oração, entendida como relação de amizade com Aquele que se ama. A centralidade da humanidade de Cristo, outro tema que lhe era muito caro, ensina que a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus, a qual culmina na união com Ele pela graça, pelo amor e pela imitação. Por fim, está a perfeição, aspiração e meta de toda vida cristã, realizada na inabitação da Santíssima Trindade, na união com Cristo através do mistério da Sua humanidade.
Dou as boas-vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta audiência! Que o exemplo e a intercessão de Santa Teresa de Jesus vos ajudem a ser, através da oração e da caridade aos irmãos, testemunhas incansáveis de Deus em uma sociedade carente de valores espirituais. Com estes votos, de bom grado, a todos abençoo.
 [Tradução: Aline Banchieri.]

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Liturgia e o “protestantismo” tradicionalista

Andrea Tornielli
Vaticanista do Il Giornale,
Trad. e Adapt. Frei Cleiton Robson, OFMConv.



"Prefiro errar com a Igreja a acertar sozinho." (Santo Agostinho de Hipona)

Caros amigos, ao renovar meus votos de um Feliz Natal, digo que no Giornale de ontem (24/12/10), publiquei uma extensa entrevista com o Prefeito da Congregação para o Culto Divino, o Cardeal Antonio Cañizares Llovera. O Cardeal - depois de ter denunciado a pressa com que foi feita a reforma pós-conciliar - explica o que a Congregação está fazendo para dar vida a um novo movimento litúrgico que faça recuperar a sacralidade ao rito de acordo com as instruções da Constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II. Cañizares antecipou algumas das iniciativas do dicastério que resguardam a formação, a catequese, a pregação, a arte e a música sacra.

Li com interesse alguns comentários em outros blogs que já tomaram a entrevista de ontem (refiro-me a paparatzinger blogs e ao blog messainlatino) e gostaria de fazer aqui algumas observações sobre a liturgia, mas também, em geral, à atitude contra o Concílio Vaticano II, também no debate suscitado pelo livro O Concílio Vaticano II: Uma história jamais escrita (Lindau), publicada recentemente pelo historiador Roberto de Mattei.

Para começar eu digo que não gosto de usar o adjetivo “tradicionalista”, assim como não gosto daqueles que seguem o rito antigo (na minha opinião, equivocadamente, chamado de “a missa de sempre”, como se eu, que sigo o rito pós-conciliar, fosse a uma “missa de nunca”) seja definido como “modernista”.

Espanta-me, antes de tudo que, frente aos gestos de Bento XVI, voltados a recuperar a sacralidade do rito católico, houve grandes concessões importantes, dentre elas o Motu Proprio Summorum Pontificum que, ao invés de favorecer a reconciliação defendida pelo Papa, segundo aquela hermenêutica “da reforma, da renovação na continuidade” (não vamos esquecer: não só “na continuidade”, mas também “da reforma”), vê-se, às vezes, que são atitudes consolidadas pela rigidez. Caros amigos, eu não posso suportar a banalização da liturgia, a criatividade que reduz o rito à obra de nossas mãos; a ausência do silêncio; a música que não tem nada a ver com a Missa, etc. etc.

Mas devo acrescentar: temos honestamente que admitir que esta, na verdade, não é a regra em todos os lugares. É certo que, em relação há alguns anos ou décadas, os abusos diminuíram drasticamente; e existem diferenças consideráveis de país para país. É por isso que estou surpreso, pois, no fundo, as palavras do Cardeal Cañizares, intérprete sincero e verdadeiro de Bento XVI, são consideradas como expressões de fraqueza, pelo fato de que ele - a pedido do Papa - está trabalhando para suscitar um movimento litúrgico novo e forte.

Esclareçamos tudo: muitos (ou alguns, ou poucos, julguem vocês mesmos) tradicionalistas não gostam da hermenêutica da continuidade de Bento XVI, porque, no fundo, acreditam que o Concílio deveria ter sido abolido. Eles acreditam que a reforma litúrgica deveria ser abolida, como um todo. Eles chegam a dizer que Roma deve reconciliar-se com a Tradição. Mas qual Tradição? Aquela fixada por eles. A Tradição está sempre vivendo, e assim como o cristianismo, é um evento que constitutivamente entra na história - que Deus se fez carne, morreu na cruz por nossos pecados e ressuscita, abrindo as portas do Paraíso e prometendo um cêntuplo já aqui. A Igreja se atualiza, vive os desafios do tempo. Procura apresentar, de modo adequado, as verdades de sempre.

Temo que certo tradicionalismo possa deslizar para o seu exato oposto, o protestantismo. Ou melhor, o galicanismo. Quem dá o direito a este ou aquele tradicionalista de dizer: esta é a Tradição, Roma está errando? Quem dá a autoridade para decidir? O tradicionalismo não é o Magistério. Quem dá o direito de, às vezes, lançar ao mar, com escárnio e desprezo, o Concílio Vaticano II? Talvez o apelo à autoridade do arcebispo Marcel Lefebvre (que a sua alma descanse em paz), agora apresentado em uma hagiografia, como um santo da Igreja?!

Quem permite a muitos tradicionalistas – baseando-se no fato de que o Vaticano II não proclamou dogmas novos – de declarar o Concílio como “pastoral” e, portanto, irrelevante e não segui-lo? Os 95% do Magistério não é dogmático, mas ordinário. Porém, o católico é obrigado a segui-lo. E então - digo isto sem intenção polêmica - como se pode realmente acreditar que o Papa legitimamente eleito, a quem Jesus assegurou o poder das Chaves e da assistência especial do Espírito Santo, com todos os bispos que votaram quase por unanimidade os documentos do Vaticano II (Lefebvre incluído), juntos em Concílio, possam ter errado?

Estar com Pedro e pelos bispos em comunhão com ele significa ser católico. Caso contrário, eu poderia dizer que considero Pio X um modernista (quantas reformas ele fez, e se eu não gosto nem as considero inadequadas aos tempos e que não estão em consonância com a doutrina litúrgica de Gregório XVI e Leão Magno?), e que quero me firmar no Vaticano I e em Pio IX ... Outro pode dizer que não aceita o Vaticano I e o dogma da infalibilidade papal (que é um inegável desenvolvimento da Tradição, e que não é aceito pelos ortodoxos). Outro pode dizer que o único ponto firme é o Concílio de Trento, enquanto outro ainda pode tentar provar que o rito moçárabe celebrado em Toledo não é católico...

Este é o “protestantismo” tradicionalista, porque se as posições de Dom Lefebvre, deste ou daquele teólogo, algumas teorias do leigo brasileiro Plínio Corrêa de Oliveira (que são objetos, dentre os muitos que se voltam para o seu pensamento, com diversas interpretações), ou as opiniões de qualquer respeitabilíssimo bispo ultra-conservador sejam enfatizadas e terminem por se tornarem o único critério para julgar a Sé Apostólica e por afirmar, em substância, as suas próprias opiniões sobre a Tradição e a “Missa de sempre”, na minha humilde opinião, há algo errado. É, na verdade, uma oposição, mas perfeitamente semelhante à de um certo progressismo, que apresenta o Concílio como um elemento de ruptura total com o passado. Isto é uma leitura antitética à de Bento XVI.

E então, permitam-me dizer que não é possível lançar apelos contínuos ao Papa para explicar, para esclarecer o Concílio; e depois fingir que não se leu e que não foi possível ver quando ele ou a Congregação para a Doutrina da Fé, ou outros departamentos da Cúria Romana o fizeram, dando a hermenêutica adequada com relação a certas distorções devidas não ao Concílio e seus textos, mas às opiniões do pós-Concílio. Isso aconteceu até com o discurso de Bento XVI à Cúria Romana em 2005 (onde o Papa admiravelmente abordou a questão da liberdade de religião, também se reflete na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, em Janeiro de 2011), com a Dominus Iesus sobre a singularidade da salvação de Cristo, com o esclarecimento sobre o “subsiste in”.

A Igreja é maior do que as nossas opiniões, o Magistério do Papa deve ser seguido mesmo quando o Pontífice não fala “ex cathedra”, o que acontece na grande maioria das vezes. O católico sabe que a Igreja Católica não é obra de nossas mãos, sabemos que fomos chamados por Alguém. Ele sabe que Jesus, a verdadeira rocha sobre a qual a Igreja estabeleceu a autoridade do seu Vigário – um pobre vigário de Cristo, como dito em palavras inesquecível João Paulo I – é tão frágil como todos, mas especialmente assistido pelo Espírito Santo.

Se olhássemos assim para o Papa, talvez poderíamos usar outras palavras para descrever o que ele faz e o que nos pede. Talvez estaríamos prontos para debatermos, porque o que nos poupa não é a nossa ideia de Tradição, mas o estarmos unidos a Cristo na sua Igreja, sob a guia do Seu Vigário e dos bispos em comunhão com ele. Para isso, dizia o Cardeal Giuseppe Siri, “os documentos do Concílio devem ser lidos de joelhos”.

Permitam-me uma palavra final sobre Dom Marcel Lefebvre, hoje apresentado por alguns como um santo, um herói, um combatente do bom combate pela verdade contra o modernismo dos Pontífices... Não o julgo e espero realmente que esteja no Céu, apesar da excomunhão. Mas um católico não pode apresentá-lo como um exemplo de santidade. Se Lefebvre era um santo, em 1988, tinha dito ao Senhor:


Dom Marcel Lefebvre

“Meu Deus, eu fiz tudo que podia para salvar a autêntica Tradição que eu considero em perigo, e lutar por aquilo que acredito ser uma separação assustadora da verdadeira liturgia Católica. Agora estou diante de um dilema. Desobedecendo ao Papa para garantir a continuidade da Sociedade de São Pio X, consagrar novos bispos, ou aceitar o convite e deixar perder-se....”

Um santo como o Padre Pio, o santo de Pietrelcina, nunca teria desobedecido o Papa, nunca teria quebrado a unidade da Igreja. Ele disse a Deus:

Santo Pe. Pio de Pietrelcina
“Eu confio em Ti. Se Tu quiseres continuar com este trabalho, agora tu tens que ir em frente, porque eu tenho feito tudo que era humanamente possível, mas agora eu não posso desobedecer o Seu Vigário”.

Ao dizer Feliz Natal novamente, gostaria de acrescentar que não restam dúvidas (que não necessariamente serão), e que partilho da opinião de Cañizares sobre a reforma pós-conciliar, que, creio, deve ser escrita a palavra final para os abusos litúrgicos, bem como para o problema da ausência de autoridade do episcopado, uma das principais causas do fracasso para corrigir os abusos. Não estou, em suma, pintando uma realidade rósea, porque não o é.

Mas devo expressar aqui mais uma vez, a falta de caridade e, às vezes, até mesmo desprezo que eu li em algumas reações. Há um debate que revela a existência de uma guerra entre cristãos que se devoram uns aos outros. E vou dizer o porquê de ter apenas me prendido aos chamados “tradicionalistas” e não aos chamados “modernistas”, que são muito mais. Bem, vejam, diante do exemplo de Bento XVI, os gestos de reconciliação, que pôs em prática frente ao mundo tradicionalista, seria de se esperar que, a partir deste próprio mundo, viesse o primeiro e principal apoio para aquele movimento litúrgico que o Papa (e não singularmente Ratzinger ou o “Papa” entre aspas, como às vezes eu vejo isso definido nos delírios sedevacantistas) acredita ser essencial para a Igreja hoje.

“O Magistério da Igreja - disse o então arcebispo de Munique da Baviera, Joseph Ratzinger - defendeu a fé do povo simples, daqueles que não escrevem editoriais nos jornais, que não têm cátedras universitárias, que não publicam obras teológicas ou livros de sucesso, que não vão à TV. E na fé dos católicos simples sempre se soube que Ubi Petrus ibi Ecclesia.”